ENTREVISTA

Ana Paula Padrão, uma mulher que não será definida: “Não fiz aquelas reportagens para provar que uma mulher poderia fazê-las; fiz porque me atraíram e porque eu as desejei com muita força”

Por Clara Jardim

Às vésperas do retorno de Masterchef, a apresentadora fala sobre as gravações em tempos de pandemia e compartilha um pouco mais da sua história, tão singular, dentro e fora da televisão brasileira

Falar da Ana Paula é falar sobre pluralidades. Com decisões ousadas, a apresentadora vem trilhando uma trajetória única, sempre pronta para novas experiências, seja na reportagem, no entretenimento ou em seus empreendimentos. Já cobriu guerras, desastres naturais e a derrocada de um ditador – sem contar Copas do Mundo ou histórias de amor no Alasca. Revelou a realidade do Talibã e do surto do Ebola em reportagens de risco. Foi correspondente internacional nos anos 90 e âncora do Jornal da Globo na primeira metade dos anos 2000. Mesmo tendo a posição que muitos almejam dentro da emissora, migrou para o SBT, em 2005, a convite do próprio Silvio Santos. Iniciou um telejornal 100% novo e empreendeu, criando uma produtora de vídeos cujo primeiro cliente foi o SBT Realidade.

Ana Paula traçou um caminho de independência das antigas grandes corporações – um caminho ainda mais próprio. Deixou sua última bancada em 2013, na Record, para se dedicar a causa das mulheres. Nos anos seguintes, também lançou um livro muito pessoal sobre suas escolhas como mulher, dirigiu a redação da revista Cláudia, dialogando diretamente com o público feminino, e passou a apresentar o Masterchef – sucesso de audiência da Band. Como empresária, dirige a Touareg, que produz vídeos corporativos, a Escola de Você e o evento Mulheres do Amanhã, ambos inteiramente dedicados à mulher.

Jornalista, empresária… quem é Ana Paula Padrão? Já faz tempo: ela se recusou a ser definida. Melhor somá-la.

Clara Jardim: Na semana que vem, o Masterchef estará de volta! Como está sendo o processo de voltar ao trabalho em tempos de Covid-19?

Ana Paula Padrão: Estou muito feliz em voltar a ver os amigos e o estúdio. É até uma situação reconfortante ter algo familiar para mim depois de um período em que tantas coisas novas e estranhas se passaram. A rotina é um afago. Ao mesmo tempo, cheguei para trabalhar um pouco tensa e tomando muito cuidado com cada gesto. Estou me acostumando com as novas rotinas, que são muitas, para que possamos levar ao público que sente tanta falta de nós um produto leve e que é produzido com segurança para todos os envolvidos na equipe de produção.

Clara Jardim: Você sempre se dedicou à causa da mulher e, na sua carreira, abriu muitas portas. No final dos anos 90, por exemplo, alguns de seus colegas homens chegaram a rir quando você manifestou o desejo de fazer uma reportagem no Afeganistão. Em 2000, lá estava você. E voltou com um material muito significativo, isso quando a pena máxima para jornalistas que filmassem ou sequer falassem com afegãos era a morte. O que esse e outros trabalhos em locais tão difíceis significaram para você como mulher?

Ana Paula Padrão: Olhando, hoje, em perspectiva e com o devido afastamento emocional, vejo que foram importantes para abrir portas para outras mulheres e para que não se encare com estranheza o fato de uma profissional fazer escolhas que não parecem triviais para uma mulher. Mas confesso que, na época, não fiz as reportagens para provar que uma mulher poderia fazê-las. Fiz porque elas me atraíram, porque eram a minha área de atuação como jornalista e porque eu as desejei, com muita certeza e muita força. Não pensei em provar nada para ninguém. Acho que esse tipo de pensamento nunca me guiou em nenhuma decisão que tomei na minha vida. 

Clara Jardim: Na vida profissional, suas escolhas chamam a atenção por sempre buscarem maior independência. Você não gosta nenhum pouco de rótulos, e também não foge de riscos. Como lida com os momentos de grandes decisões?

Ana Paula Padrão: Não sou intempestiva. Sou bastante intensa, mas penso muito antes de decidir. Quando estou diante de uma encruzilhada, sinto medo e batem várias inseguranças. Mas o tempo vai dissolvendo esses sentimentos. O fato de pensar muito, ponderar, imaginar as consequências de diferentes decisões vai me dando certeza do que realmente quero. Isso me acalma e me dá coragem e, quando decido, não olho pra trás.

Clara Jardim: Para a gente encerrar a entrevista, qual foi o prato que você mais gostou de preparar durante a quarentena?

Ana Paula Padrão: Meu marido, Gustavo, adora quando faço Beef Wellington, mas como precisa de um tempinho de preparo, eu raramente me aventuro. Desta vez, fiz um que ficou, modéstia à parte, muito bom!

Foto: Fernando Louza