ENTREVISTA

Nasce uma editora: jornalista gaúcha Mariana Bertolucci conta o processo que cursou ao adentrar o mercado editorial e comenta desafios em tempos de IA

Por Clara Jardim

Entrevista com Mariana Bertolucci, jornalista, autora e editora da Revista Bá que, há três anos, adentrou o mercado editorial ao criar a Editora Bá.

Um Revista: Como foi o seu processo de virar editora? O que motivou você a se jogar nessa iniciativa?

Mariana Bertolucci: Então, foi completamente por acaso. Eu sou do 7 do 7, e completamente cabalística em relação ao dia no qual nasci. Já queria ser escritora além de jornalista desde sempre. Publiquei meu primeiro livro pela Libretos em 2011 e fiz a biografia do meu avô em 2018.
No ano dos meus 27 anos de carreira, encasquetei que tinha que reunir crônicas dos últimos anos e publicar. Tinha que ser naquele ano. Simplesmente meti na cabeça. E eu sou um pouco assim. Fiz orçamentos com duas editoras e estava salgado para o meu bolso de recém-desempregada, saindo de um cargo público. Quando fui retomar a minha empresa, conversando com o Milton, meu contador, sobre aumentar as habilitações do meu CNPJ , ele me olha bem tranquilo e diz: “Vamos lá então, Mariana, a tua empresa tem apenas um CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), editora de livros e revistas.” Eu pensei imediatamente, é óbvio que eu vou publicar meu livro. Conheço os melhores designers, fotógrafos e editores! E, em novembro de 2022, lancei o 27. Desde então, lançamos mais 15 publicações de diferentes gêneros e, graças às Deusas, vem coisa boa por aí. O décimo sétimo livro da editora vai ter de ser o meu primeiro infantil. Vou ter que correr para não passarem na minha frente. Distraídos venceremos, já dizia o maravilhoso Paulo Leminski.

Um Revista: Como você enxerga o mercado de livros atual, com tudo o que é possível graças à tecnologia, livros digitais, meios independentes de divulgação etc.? E qual é o maior desafio como editora em tempos de Inteligência Artificial (IA)?

Mariana Bertolucci: Então, acho um momento incrível e muito instigante pra criar, sabe? Além das possibilidades terem se ampliando infinitamente com a tecnologia, nunca foi tão necessário marcarmos nossos territórios, tanto como autores, quanto como jornalistas com credibilidade. São histórias e mais histórias, recortes, relatos, devaneios poéticos, poemas cibernéticos, narrativas e linguagens para todo tipo de gente, gosto e formato. Estou fazendo graduação em escrita criativa e tô percebendo e aprendendo cada vez mais sobre isso. Ainda sou desconfiada com a IA, mas não enxergo outra maneira, como em tudo na vida, a não ser encarar de frente, entender, aprender, usar ao nosso favor e tomar absolutamente todas as precauções para regularizar essa ferramenta que pode, sim, acabar com os direitos autorais e a criação como um todo que, aliás, é o que mais me deixa em pânico. Porque eu pergunto a você, o que será da humanidade sem a arte, a expressão, a cultura popular, a comunicação genuína vinda da mente e dos corações humanos? Como daremos conta desse mundo louco e autodestrutivo sem a arte? Tudo que publicamos, e o livro físico é algo que fica de verdade registrado no mundo, todas as histórias, por mais pessoais ou impessoais que pareçam, registram a vida, os modos e os fatos das pessoas nesse mundo. E assim caminha a humanidade.

Um Revista: Marie e o Nobre Anônimo é o mais novo livro a ser lançado pela Bá Editora. O décimo sexto! O que esse livro representa para a Bá Editora?

Mariana Bertolucci: Nossa! Representa muito por vários motivos. O primeiro é o fato de publicar essas duas autoras maravilhosas. A Letícia Wierzchowski, nossa mestra e exemplo de romancista e educadora. E a Fátima Mazzoleni que, além de um doce, é única. Segundo porque há uma relevância e uma beleza melancólica comovente na história da protagonista Marie. É uma história verídica lindamente romanceada com a ideia amorosa de trazer um pouco de amor e alento à parte da vida de uma mulher que foi apagada pela brutalidade do machismo e do preconceito. Marie é a bisavó de Fátima que, em sua primeira obra literária, conseguiu devolver à bisavó e, também, a todas nós, mulheres leitoras, um pouco de ternura e dignidade, mesmo em meio à injustiça. E o terceiro motivo é porque é o primeiro romance da Bá Editora. Estou muito feliz.

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