Foi no dia 29 de outubro de 2020 que Lucas Chianca, o Chumbo, completou uma onda de proporções apocalípticas no swell em Nazaré. Pode ser a maior já surfada na história do esporte, superando o paredão de 84 pés descido por Rodrigo Koxa em 2017. A medição da World Surf League ainda vai demorar um pouquinho para sair, mas o big rider quer manter a expectativa baixa e já está de olho nas próximas ondulações, compartilhando os treinos para o circuito e as surf trips no seu canal do Youtube.
Em entrevista à Uma Revista, ele fala sobre as experiências em Portugal, o aprendizado com Carlos Burle e a cultura do surf na sua família.
Clara Jardim: Chumbo, você surfou uma monstruosidade de onda. Se caísse nela, nunca mais voltava. Era realmente enorme, e a junção ia rápido na sua direção. Me conta o que você lembra do momento, desde a leitura da onda até o momento em que você se sentiu a salvo dela.
Lucas Chumbo: Cara, quando a gente desce a onda, estamos no momento em que vivemos o ano inteiro esperando. Aquele momento… Sei lá. Acho que a minha vida gira em torno daquilo. Estar descendo uma onda gigante é tão rápido, mas é tão gostoso… E, realmente, essa última experiência foi intensa. Foi a melhor da minha vida, a maior. Não sei o que eu estava sentindo, só sei que era adrenalina máxima, e medo. Porque a onda era muito grande, e eu estava indo muito rápido. Eu vim do lugar certo, meu parceiro me jogou da posição certa. Desci até a base e consegui sair antes da junção fechar; acabou que deu tudo certo. Assim, foi a maior onda da minha vida, com certeza. E uma das melhores, top five.
Clara Jardim: O sonho da sua vida é uma onda de 100 pés, e os números da Praia da Nazaré estavam fora do padrão nesse mês de outubro…
Lucas Chumbo: Começar a temporada assim, nesse swell, foi um boom. Marcou! Desde que comecei o ano, com pandemia e tudo, eu tinha uma meta, que era surfar as maiores ondas do ano e performar o melhor possível em todos os swells. A maior onda da minha vida, com certeza, foi a daquele dia. E eu saí desse swell com o dever comprido.

Clara Jardim: Big riders precisam ser excelentes pilotos de Jet Ski, preparados para as condições mais íngremes, principalmente em Nazaré, com a força da onda, correntes, espuma. E é muito legal ver que vocês, quando pilotos, querem proporcionar a melhor experiência para quem vai dropar. Como é o processo de aprendizagem no Jet Ski?
Lucas Chumbo: Cara, a experiência no Jet Ski é uma coisa que a gente tem de ter, principalmente nesse mundo de tow-in. Quando você não tem essa experiência, vira um peso morto na água. Você só surfa. Não pode ajudar, resgatar ninguém. Não pilota para ninguém. Fica meio que um patinho na lagoa, acaba não acrescentando muito. Então, é um processo longo, doloroso igual ao surf, mas que é necessário. Porque a pessoa que tem experiência no Jet Ski é tudo. Faz a diferença dentro d’água. E, com certeza, investi anos da minha vida assim, para melhorar nisso. Desde os 14, no primeiro Jet Ski que o meu pai nos colocou para aprender, até os 18, eu pilotava bem, mas ainda não sabia o que era pilotar em Nazaré. E, quando eu conheci Nazaré, foi o game changer. O mestre Burle e o mestre Alemão me ensinaram muitos, muitos dotes. O aprendizado com eles me colocou na performance que eu tenho hoje em cima do Jet Ski. E isso é um dom que, quando você fica afiado, cara… Você acha as melhores ondas para o seu parceiro e mantém ele safe 100%.
Clara Jardim: Você diz que agradece a Deus por ter colocado o Carlos Burle em sua vida, pois ele mostrou o caminho de como fazer as coisas. Qual foi o maior ou um dos maiores ensinamentos desses últimos anos?
Lucas Cumbo: O maior ensinamento que o mestre Burle sempre me passa é: que a gente tenha a expectativa baixa, o objetivo alto e trabalho constante. Ele me ensinou no início, e eu levo para a vida inteira. Com o mestre, tudo ficou muito mais fácil. A experiência, a sabedoria que ele tem para fazer as escolhas certas nos momentos certos é uma coisa que só dá para conseguir com anos de carreira. Com certeza, ter tido e estar tendo ele ao meu lado – e ainda terei ele ao meu lado por muito tempo – irá me transformar em um atleta muito mais completo e forte. Então, graças a Deus, o meu time está completo. Com o Burle sempre presente.

Clara Jardim: A influência do surf vem do Gustavo, o pai Chumbão, que já surfava nos melhores picos de Saquarema. Michelle, sua mãe, sempre acompanhando. E o João Chumbinho estreou superbem na temporada havaiana! Estamos falando de uma família com água do mar no sangue… Conta um pouco mais deles?
Lucas Cumbo: Meus pais foram a maior influência, os maiores patrocinadores e apoiadores da nossa carreira no esporte. Meu irmão e eu, desde pequenos, temos esse apoio principalmente do nosso pai, que nos botou para surfar aos três anos de idade. E minha mãe sempre junto, levando a gente para todos os campeonatos. Na época que eu escolhi ondas grandes para a minha vida, minha mãe me apoiou muito e bateu de frente com meu pai para que ele me apoiasse nisso também. E, com certeza, se não fosse essa família em que eu nasci, acho que não seria tão perfeito e tão completo igual agora. Depois de anos de investimento e dedicação, hoje estou no Top 3 dos melhores do mundo de ondas gigantes. E meu irmão quase entrando no CT (Championship Tour), está ali no Top 30 do QS (Qualifying Series). Então, realmente, a dedicação e o empenho que os meus pais tiveram fez toda a diferença.