Formada em Design de Moda, pós-graduada em História da Arte e idealizadora das marcas Saia com Arte e @alineplacestore, a carioca propõe uma abordagem cheia de cores e narrativas para o closet do dia a dia. Que tal levar um pouco de Van Gogh para passear? Se as roupas são uma maneira de expressão, as peças da carioca elevam esta percepção a outro patamar…

Com blusas, saias e vestidos que trazem a História da Arte – e do feminino – à tona, as coleções de Aline Place também provocam reflexões bastante profundas a respeito da sociedade em peças que homenageiam gente como Billie Holiday, Camille Claudel e Zelda Sayre.
“Criei uma coleção de camisetas batizada de Mulheres Roubadas, sobre artistas que sofreram violência patrimonial ao longo da História da Arte; foram muitas. Parte da renda será doada para uma instituição escolhida pela Ronda Maria da Penha, que ajuda mulheres vítimas de violências. É muito triste observar que as histórias dos séculos passados continuam se repetindo hoje. E eu quero ajudar, cada vez mais, aquelas mulheres que estão sem saída, retribuindo o amor que recebi para me reerguer.”
As três novas coleções de Aline são – juntas – um símbolo do seu recomeço, na profissão e na vida. Após ter atravessado um labirinto de perdas inesperadas, hoje, ela pede e compartilha apoio a todas as mulheres que se encontram em uma situação parecida, e ninguém melhor do que a própria designer para contar os detalhes da sua inspiradora volta por cima!

Com a palavra, Aline Place:
“Espero ser ouvida. Espero recuperar tudo o que me foi tirado. E espero ajudar outras mulheres.
Minha história é longa… Em 2011, eu criava o meu filho sozinha, com a ajuda financeira do meu pai e o dinheiro das bijuterias que fazia para vender às lojas. Fazia faculdade e estava física e psicologicamente muito cansada.
Foi quando tive a ideia que iria mudar a minha realidade – criar roupas com quadros famosos! Imediatamente me veio o nome Saia com Arte.
Uma grande amiga e eu investimos, virando sócias; ela registrou o nome da marca e ficou como administradora enquanto eu criava as peças da Saia com Arte.
Mas, como em todo negócio, o começo foi de pouca grana e acabei ficando sozinha.
Sem a minha sócia, não tinha carro para ir às feiras, e tudo o que acontecia de bom acabava morrendo. A depressão chegou e, após anos tentando ser otimista, fiquei esgotada.
Foi quando ele reapareceu em minha vida…
Nós nos conhecíamos desde 1991, quando tivemos um breve namoro na adolescência. E, finalmente, acabei me apaixonando.
Fui convencida por ele a passar a marca – registrada no nome da minha ex-sócia – para o nome dele. E eu, que estava com o nome comprometido, tinha medo de perder a Saia com Arte caso a colocasse em meu nome. Acabei aceitando.
Ele me levava de carro para as feiras nos fins de semana, e passamos a morar juntos.
A criação das peças sempre foi cem por cento minha; e fui aprendendo a cada coleção, com a prática e os estudos na faculdade de Design de Moda. Ao longo de quatro anos, trabalhei sem ter uma folga sequer. Cortava e estampava todas as peças – só eu tenho noção do quanto foi trabalhoso! Mas a Saia com Arte voou!
Com o tempo, ele passou a trabalhar integralmente comigo, e abrimos lojas que foram um sucesso!
A marca passou a estampar as revistas de moda, tendo atrizes maravilhosas como clientes. O site bombava, e havia gente no mundo todo querendo revender as roupas.
Mas o meu filho cresceu e passou a questionar a parte financeira da empresa… Achava um absurdo nada estar em meu nome.
Na minha cabeça, além de achar aquele homem honesto e de pensar que eu era muito amada, sabia que estávamos casados desde a abertura da primeira loja.
Também, o fiador das nossas quatro lojas era o meu pai. Ou seja, eu me sentia totalmente segura.
No entanto, quanto mais o meu filho pedia para saber como estavam as finanças, mais o meu então marido ficava diferente, muito distante do homem com quem eu havia me casado oito anos antes. E, certa noite, decidi me separar.
A reação dele foi tentar proibir que o meu filho entrasse na empresa, até que decidi desfazer o negócio.
O plano era, a partir da minha metade, começar uma nova marca. Foi quando, para a minha maior surpresa, meu ex-marido falou que a Saia com Arte nunca havia sido minha; que era da minha amiga e passou a ser dele. Eu não era mais que uma empregada.
Não podia acreditar que tinha ficado casada por anos com uma pessoa que fosse capaz de fazer isso.
A verdade é que ele não queria dividir nada porque, sem mim, a marca perderia o valor. Afinal, o DNA da criação das roupas era meu, e isso não podia ser tirado de mim…
Sofrendo crises de ansiedade, resolvi desistir da marca. Que ele ficasse com ela, e eu criaria outra! E tive a segunda grande surpresa quando fui registrar o meu nome civil no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Soube que ele já havia registrado o meu nome, declarando que Aline Place não se tratava de um nome civil e, sim, de um nome arbitrário, exclusivamente para designar o comércio de artigos e vestuários em geral.
Fiquei sabendo, também, que ele havia comprado o domínio dos sites alineplace.com e alineplace.com.br por dez anos!
Fiquei sem as lojas, os direitos e todo o estoque da Saia com Arte. Pelo menos, no INPI, consegui reverter a situação e gerei uma nova marca – a Aline Place!
Mas não acaba aí. No mês passado, ele pediu metade da nova marca, alegando que o sucesso da minha empresa se deve à Saia com Arte.
E só havia duas opções: mergulhar na dor ou na luta. Lutei.
Em 2021, lancei três coleções que considero as mais bonitas que já fiz! Foi um sucesso.

Recebi tanto amor, tanto apoio! Um verdadeiro campo de energia em volta de mim.
Houve dias em que acordei achando que iria enlouquecer. Então, recebia diversas mensagens, centenas de mulheres me dando as mãos! Eu tenho as melhores clientes, uma sororidade linda. E consegui abrir uma pequena loja em uma galeria de Ipanema!

E de pensar que muita gente sequer já ouviu falar em violência patrimonial… Muitas mulheres conseguem se reposicionar no mercado; elas se reerguem a custo de muito sacrifício físico e emocional. Mas muitas outras não têm essa chance.
A quantidade de mulheres que me escreveram dizendo que passaram pela mesma situação é surpreendente! Alguns homens, quando estão em um relacionamento com uma mulher empreendedora, acham que o dinheiro delas é, também, deles. E acham que, se o relacionamento terminar, somente eles têm direito ao dinheiro.
Vira e mexe, alguém me conta um novo caso; as histórias se repetem, e os finais são sempre os mesmos.
Por isso, criei uma coleção de camisetas batizada de Mulheres Roubadas, sobre artistas que sofreram violência patrimonial ao longo da História da Arte; foram muitas. Parte da renda será doada para uma instituição escolhida pela Ronda Maria da Penha, que ajuda mulheres vítimas de violências. É muito triste observar que as histórias dos séculos passados continuam se repetindo hoje. E eu quero ajudar, cada vez mais, aquelas mulheres que estão sem saída, retribuindo o amor que recebi para me reerguer.“