Publicado em 18 de maio de 2023
Depois da liminar que impedia a Rede Globo de exibir o programa Linha Direta sobre a morte do seu filho Henry, Leniel Borel falou à Uma Revista sobre o sentimento de ser calado:
“Fiquei consternado e, para mim, é uma censura prévia. Falo como Leniel, o cidadão, é censura. Eles têm medo das robustas provas que seriam apresentadas no programa, mas a verdade não faz curva. A verdade é uma só e virá no tribunal. Como é que pode? Monique e Jairo deram entrevista para o Roberto Cabrini. Por que isso não foi censurado?“
A alegação da juíza Elizabeth Machado Louro, que proferiu a liminar em 17 de maio, véspera da exibição do programa, é de que a exposição poderia colocar em risco a imparcialidade do júri popular – visto que o processo ainda aguarda julgamento. Mesmo com a proibição, Leniel não deixou de acreditar que o programa iria ao ar. “Talvez, seja até amanhã.”
Na manhã desta quinta-feira, a liminar foi derrubada pelo ministro Gilmar Mendes com a justificativa de que o caso é de evidente interesse público. O ministro também citou a decisão da juíza como uma clara tentativa de censura.
Mas a barbárie presente na morte de um menino de 4 anos vai além do interesse público. É um alerta para a incidência de crimes como esse e para as suas características, que podem ser observadas à luz do dia.
“Ali, são dois psicopatas, narcisistas”, afirma Leniel. “Quando se juntaram, virou uma bomba. Um narcisista não gosta de perder, né? A Monique nunca entregaria a guarda para mim. Como é que ela explicaria para a família e para os amigos que tinha perdido a guarda do filho? Que ele não queria mais morar com ela? Isso é terrível para uma pessoa narcisista. Assim como Jairo, outro narcisista. Também havia a ganância, porque a Monique recebia uma pensão muito boa minha. E existia um sádico ali. Ele é um sádico. Ouso dizer para você: o Jairo só quis morar com a Monique por causa do Henry. Essa tara por criança levou ele a morar com ela.”
Como evidenciado no programa, a realidade das crianças que sofrem abusos dentro de casa é, muitas vezes, o silêncio ou a descrença nas suas palavras. E a necessidade de combater esses processos em tantas casas brasileiras deu origem à Associação Henry Borel, que aceita denúncias, presta auxílio psicológico e promove a orientação jurídica em âmbito nacional, entre outras ações de conscientização, sendo uma organização civil e sem fins lucrativos. Saiba como buscar ajuda, fazer doações e atuar como voluntário(a) aqui.
“Eu entendo o meu papel na sociedade e no que eu estou fazendo”, afirma o pai de Henry. “Queria que tivesse havido um Leniel Borel antes de mim. Queria que tivesse havido uma única pessoa que me dissesse: ‘Não leva o teu filho de volta para a casa da mãe! Não entrega para a mãe!’ A prevenção e a proteção precisam vir em primeiro lugar.”
Leniel também fala sobre como desenvolveu a ideia da Associação: “Quando o meu filho faleceu, eu fiquei muito, muito mal. Fiquei três dias sem tomar banho. Não conseguia ver um mês, uma semana, um dia de vida. E eu não conseguia viver o luto, pois precisava dar entrevista todo o dia, lutar por justiça, com medo que não fosse dar em nada”, relata. “Tratava-se de um vereador com cinco mandatos, com pai deputado estadual, poder aquisitivo e influência. Mas pior que isso foi o que a Unicef apresentou para mim. São 32 crianças assassinadas por dia no nosso país. São 32 Henrys.”
Hoje, a Associação já ultrapassou 600 atendimentos e está em expansão. Também como resultado da luta de Leniel Borel por justiça é a Lei Henry Borel, sancionada em 2022, que cria mecanismos para a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente, além de tornar o homicídio de criança um crime hediondo.
Para denunciar negligência, violência, exploração ou abuso, dique 100.