Você já se sentiu paralisado ao falar em público?
Diferente da timidez, a fobia social nada mais é que o medo desmedido da exposição, ou seja, de como seremos percebidos pelas outras pessoas. Entre os sintomas, evitar microfones, a apresentação de trabalhos ou mesmo as conversas com o crush, pois se trata de um transtorno limitante, que prejudica a vida pessoal e profissional de muita gente.
Como superar a dificuldade?
Boas notícias! Existe tratamento, e convidamos o Dr. Alex Rocha – neuropsicólogo, especialista em neurofeedback e, também, apresentador do Mentes em Pauta – para desenredar o tema.

UR: O senhor poderia explicar a diferença entre uma personalidade com tendência à introversão e uma pessoa cujo medo de se expor é realmente patológico?
Alex Rocha: É muito importante entender que uma pessoa introvertida escolhe se isolar, tem uma preferência em ficar sozinha e desenvolver atividades solitárias como ler livros e assistir a filmes, mas ela não tem problema algum em conviver com outras pessoas, participar de atividades coletivas. A característica dessa personalidade é focar mais em seu universo interior; conseguir sentir e entender seus sentimentos. Quem convive com esse tipo de pessoa costuma achar que são antissociais, arrogantes, antipáticas, mas não é nada disso.
A diferença delas para as pessoas que têm medo de se expor não é uma escolha e, sim, um sofrimento. Sentem sensações indesejadas como sudorese, tremores, náuseas, gagueira transitória. Isso tem nome: glossofobia (um tipo de fobia social) – muito comum em jovens iniciando e se preparando para vida adulta. É uma dificuldade que pode aparecer na vida acadêmica. Pessoas com características de ansiedade, agorafobia e sinais de baixa autoestima são mais propícias a desenvolver esses sintomas. Segundo pesquisadores, costuma ser mais comum em mulheres, entretanto, eu não vejo essa diferença com homens em minha prática clínica. Resumindo, ser introvertido é a escolha de querer ficar só; já o glossofóbico gostaria de se relacionar, mas o medo não deixa.
UR: Quais são os sintomas psicológicos e fisiológicos de uma crise de glossofobia?
Alex Rocha: Vale ressaltar que esses sintomas são mais comuns quando a pessoa se coloca em exposição ao falar ou comer em público. São pessoas que apresentam muitos pensamentos distorcidos e negativos em relação ao evento. Acreditam que todas as pessoas as estão julgando, observando seus comportamentos. Isso leva a um sofrimento real. Colabora para o começo e o desenvolvimento dos sintomas. As principais características do medo de falar em público são: achar que não consegue fazer nada, dificuldade de fazer contato visual, evitar pessoas e ambientes cheios. Os sintomas fisiológicos: voz trêmula, tremores nas mãos, gagueira transitória, taquicardia, ansiedade, sudorese e dificuldades respiratórias.
UR: A possibilidade de conversar por meio de aplicativos de mensagem facilitou a realidade dos que sofrem do transtorno. Ao mesmo tempo, a pandemia levou muitos a adotarem o universo virtual como o único possível. De que forma o senhor vê a fobia social se desenvolver em tempos tão digitais – videochamadas, lives, etc.?
Alex Rocha: Acredito que, sim, os aplicativos de encontros e até mesmo os de mensagens têm ajudado bastante esse grupo de pessoas, sendo uma forma de se comunicarem sem tanta exposição. Com a pandemia, essas pessoas estão conseguindo ganhar mais espaço no mercado de trabalho e se desenvolvendo melhor em suas atividades acadêmicas por tudo o que está acontecendo remotamente – dinâmicas, entrevistas de emprego. Isso as levou a conseguirem se apresentar melhor. Entretanto, elas ainda sofrem e sentem dificuldades, pois estão sempre pensando em como vai ser quando tudo voltar ao normal. Mas acredito que a pandemia, nesse quesito, tem ajudado muito elas.
UR: Nas escolas, há quem tire notas mais baixas porque tem muita vergonha de fazer perguntas para o professor na frente de outros colegas, por exemplo. Como os educadores, pais e responsáveis podem ajudar adolescentes que sofrem desse transtorno?
Alex Rocha: Essa pergunta é perfeita. Realmente, esses alunos têm muita dificuldade em suas atividades de vida diária. Sempre aconselho os pais a procurarem os serviços de orientação educacional para informar dessa dificuldade do adolescente para, juntos, criarem estratégias que ajudem e orientem todos os educadores. Gosto de enviar algumas sugestões à escola, como observar o local onde esse aluno está se sentando; colocá-lo em lugares estratégicos. Acolhê-lo e elogiá-lo, encorajando seus pontos positivos. Nunca forçar exposições. O aluno deve ser estimulado a fazer algum tipo de psicoterapia e a participar de grupos de suporte. É muito importante que a família e a escola estejam sempre em contato, pois é comum que esse perfil falte aulas. Muitos saem de casa, mas não vão até a escola; ficam fazendo hora para voltar para casa. Inclusive, isso é muito comum em jovens que já estão na universidade.
UR: Ajustado às necessidades de cada caso, o tratamento para a fobia social abrange os mesmos medicamentos usados para crises de pânico e, também, treinamentos de descondicionamento. Como funciona essa combinação, Dr. Alex?
Alex Rocha: Sem dúvida, pacientes que sofrem desse transtorno precisam de medicamentos e psicoterapias. Hoje, com a evolução da neurociência e os recursos tecnológicos, podemos dizer que os tratamentos têm facilitado bastante para o desenvolvimento desse paciente. A melhor terapia ainda é a terapia cognitiva comportamental, com técnicas de dessensibilização, tratamentos mindfulness e tratamentos de realidade virtual, ou seja, com o uso de óculos que simulam situações reais, levando o paciente ao enfrentamento de forma terapêutica, sem gerar sofrimento, até que ele consiga enfrentar seus medos. Toda a técnica tem monitoramento dos batimentos cardíacos e auxilia em sua respiração. Outra terapia que auxilia muito é o teatro para tímidos.
