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ENTREVISTA

Medo de falar em público? Uma conversa com o neuropsicólogo e especialista em neurofeedback, Dr. Alex Rocha, sobre a fobia que paralisa milhares de pessoas

Clara Jardimpor Clara Jardim20 de agosto de 202123 de setembro de 2025
Por Clara Jardim

Você já se sentiu paralisado ao falar em público?

Diferente da timidez, a fobia social nada mais é que o medo desmedido da exposição, ou seja, de como seremos percebidos pelas outras pessoas. Entre os sintomas, evitar microfones, a apresentação de trabalhos ou mesmo as conversas com o crush, pois se trata de um transtorno limitante, que prejudica a vida pessoal e profissional de muita gente.

Como superar a dificuldade?

Boas notícias! Existe tratamento, e convidamos o Dr. Alex Rocha – neuropsicólogo, especialista em neurofeedback e, também, apresentador do Mentes em Pauta – para desenredar o tema.

Foto: Divulgação

UR: O senhor poderia explicar a diferença entre uma personalidade com tendência à introversão e uma pessoa cujo medo de se expor é realmente patológico?

Alex Rocha: É muito importante entender que uma pessoa introvertida escolhe se isolar, tem uma preferência em ficar sozinha e desenvolver atividades solitárias como ler livros e assistir a filmes, mas ela não tem problema algum em conviver com outras pessoas, participar de atividades coletivas. A característica dessa personalidade é focar mais em seu universo interior; conseguir sentir e entender seus sentimentos. Quem convive com esse tipo de pessoa costuma achar que são antissociais, arrogantes, antipáticas, mas não é nada disso.
A diferença delas para as pessoas que têm medo de se expor não é uma escolha e, sim, um sofrimento. Sentem sensações indesejadas como sudorese, tremores, náuseas, gagueira transitória. Isso tem nome: glossofobia (um tipo de fobia social) – muito comum em jovens iniciando e se preparando para vida adulta. É uma dificuldade que pode aparecer na vida acadêmica. Pessoas com características de ansiedade, agorafobia e sinais de baixa autoestima são mais propícias a desenvolver esses sintomas. Segundo pesquisadores, costuma ser mais comum em mulheres, entretanto, eu não vejo essa diferença com homens em minha prática clínica. Resumindo, ser introvertido é a escolha de querer ficar só; já o glossofóbico gostaria de se relacionar, mas o medo não deixa.


UR: Quais são os sintomas psicológicos e fisiológicos de uma crise de glossofobia?

Alex Rocha: Vale ressaltar que esses sintomas são mais comuns quando a pessoa se coloca em exposição ao falar ou comer em público. São pessoas que apresentam muitos pensamentos distorcidos e negativos em relação ao evento. Acreditam que todas as pessoas as estão julgando, observando seus comportamentos. Isso leva a um sofrimento real. Colabora para o começo e o desenvolvimento dos sintomas. As principais características do medo de falar em público são: achar que não consegue fazer nada, dificuldade de fazer contato visual, evitar pessoas e ambientes cheios. Os sintomas fisiológicos: voz trêmula, tremores nas mãos, gagueira transitória, taquicardia, ansiedade, sudorese e dificuldades respiratórias.

UR: A possibilidade de conversar por meio de aplicativos de mensagem facilitou a realidade dos que sofrem do transtorno. Ao mesmo tempo, a pandemia levou muitos a adotarem o universo virtual como o único possível. De que forma o senhor vê a fobia social se desenvolver em tempos tão digitais – videochamadas, lives, etc.?

Alex Rocha: Acredito que, sim, os aplicativos de encontros e até mesmo os de mensagens têm ajudado bastante esse grupo de pessoas, sendo uma forma de se comunicarem sem tanta exposição. Com a pandemia, essas pessoas estão conseguindo ganhar mais espaço no mercado de trabalho e se desenvolvendo melhor em suas atividades acadêmicas por tudo o que está acontecendo remotamente – dinâmicas, entrevistas de emprego. Isso as levou a conseguirem se apresentar melhor. Entretanto, elas ainda sofrem e sentem dificuldades, pois estão sempre pensando em como vai ser quando tudo voltar ao normal. Mas acredito que a pandemia, nesse quesito, tem ajudado muito elas.

UR: Nas escolas, há quem tire notas mais baixas porque tem muita vergonha de fazer perguntas para o professor na frente de outros colegas, por exemplo. Como os educadores, pais e responsáveis podem ajudar adolescentes que sofrem desse transtorno? 

Alex Rocha: Essa pergunta é perfeita. Realmente, esses alunos têm muita dificuldade em suas atividades de vida diária. Sempre aconselho os pais a procurarem os serviços de orientação educacional para informar dessa dificuldade do adolescente para, juntos, criarem estratégias que ajudem e orientem todos os educadores. Gosto de enviar algumas sugestões à escola, como observar o local onde esse aluno está se sentando; colocá-lo em lugares estratégicos. Acolhê-lo e elogiá-lo, encorajando seus pontos positivos. Nunca forçar exposições. O aluno deve ser estimulado a fazer algum tipo de psicoterapia e a participar de grupos de suporte. É muito importante que a família e a escola estejam sempre em contato, pois é comum que esse perfil falte aulas. Muitos saem de casa, mas não vão até a escola; ficam fazendo hora para voltar para casa. Inclusive, isso é muito comum em jovens que já estão na universidade.


UR: Ajustado às necessidades de cada caso, o tratamento para a fobia social abrange os mesmos medicamentos usados para crises de pânico e, também, treinamentos de descondicionamento. Como funciona essa combinação, Dr. Alex?

Alex Rocha: Sem dúvida, pacientes que sofrem desse transtorno precisam de medicamentos e psicoterapias. Hoje, com a evolução da neurociência e os recursos tecnológicos, podemos dizer que os tratamentos têm facilitado bastante para o desenvolvimento desse paciente. A melhor terapia ainda é a terapia cognitiva comportamental, com técnicas de dessensibilização, tratamentos mindfulness e tratamentos de realidade virtual, ou seja, com o uso de óculos que simulam situações reais, levando o paciente ao enfrentamento de forma terapêutica, sem gerar sofrimento, até que ele consiga enfrentar seus medos. Toda a técnica tem monitoramento dos batimentos cardíacos e auxilia em sua respiração. Outra terapia que auxilia muito é o teatro para tímidos.

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