ENTREVISTA

A pauta é Etarismo: Como vai a representatividade da mulher madura na moda e na sociedade? Uma conversa com a modelo Monica Maligo, da ARO Model Manager

A juventude sempre dominou as passarelas e os catálogos de moda. E é exaustivo, chato… Mas há marcas que já se deram conta do poder da representatividade e valorização de mulheres maduras – afinal, elas são uma importante fatia do mercado consumidor e estão à procura de produtos que as valorizem. Como alcançá-las além das barreiras do etarismo? É quando modelos como Monica Maligo entram em ação, naturalizando idades na frente das câmeras, sem estereótipos, e recentralizando a experiência de ser mulher em qualquer parte da linha do tempo.

Fotos: @land.hugo

Em entrevista à Uma Revista, a modelo representada pela ARO Model Manager falou sobre amadurecimento e autoestima.

Clara Jardim: Como tem sido a experiência de representar mulheres maduras para campanhas publicitárias em 2021? O que essa representatividade traz para o universo da moda?

Monica Maligo: Fotografo desde 2017, quando assumi meus cabelos brancos. No começo, eu ocupava um lugar bem específico. De mãe, avó… Mas, cada vez mais, sinto que as marcas estão procurando representar e dialogar com mulheres maduras, donas do seu nariz, da sua aparência e das suas escolhas. Mulheres feito eu, feito as minhas amigas e tantas outras da minha geração, que sempre estivemos por aí – vivendo, trabalhando, namorando, apoiando as famílias – embora esquecidas pela comunicação. Acredito que o universo da moda, enfim, entendeu que existem diversos tipos de beleza. E, principalmente, que a tal da economia prateada tem poder. Nós consumimos, influenciamos e decidimos muito. É bom as marcas permanecerem alertas e buscarem uma aproximação cada vez maior com esse público.

Clara Jardim: Como é a sua relação com a autoimagem em um trabalho tão visual?

Monica Maligo: Sou uma pessoa tímida por natureza, e tive que desvestir minha timidez para conseguir me encontrar como modelo. Só consegui porque tive a ajuda de muita gente – minha agência, maquiadores, fotógrafos, iluminadores, figurinistas, editores de imagem, produtores, jornalistas… Há muito talento e muitos profissionais envolvidos na criação de uma imagem de impacto. O modelo é, acima de tudo, um veículo para muitas expertises.

Clara Jardim: Qual o papel da autoestima para viver a idade madura de forma plena e combater os preconceitos contra a idade?

Monica Maligo: Ao contrário do que se pensa, envelhecer faz bem para a autoestima. Você consegue separar o que é importante para você do que é importante para os outros, consegue mandar às favas a expectativa e os preconceitos alheios, aprende a conhecer bem os seus pontos fortes e fracos. É uma fase de profundo autoconhecimento e poder. Falo por mim e, também, pelas mulheres da minha idade com as quais me relaciono.

Clara Jardim: Recentemente, Jennifer Aniston lançou sua aguardada marca LolaVie, aos 52 anos, sendo a própria a melhor garota-propaganda que uma linha para cabelos poderia ter.

Hoje, a mulher que tem mais de 50 anos segue vivendo sua vida, podendo ser sensual, poderosa, o que quiser. E trata-se de um conceito diferente do que se tinha anos atrás.

Mas ainda existe muito preconceito… Inclusive sobre o que pode ou não vestir depois de certa idade. Em tempos de redes sociais, como preparar as novas gerações para um amadurecimento sem tantos tabus?

Monica Maligo: Sobre o que não pode ou não deve… Pode tudo! Basta você querer, se sentir bem e agir com respeito ao outro. Quanto mais visibilidade a mulher madura – e a mulher preta, e a mulher trans, e a mulher com deficiência – tiver nas redes sociais e no mundo real, melhor para todos. Todas as mulheres, em sua riquíssima diversidade. Temos a missão de abrir caminho para quem vem depois de nós.