ENTREVISTA

Fernanda Ribeiro e o fortalecimento do processo de inclusão socioeconômica da população negra: “Somos um negócio social, logo, para além do lucro, nossa empresa tem compromissos sociais”

Por Clara Jardim

Ninguém melhor do que a empresária Fernanda Ribeiro para falar de educação financeira como via de inclusão. Aos 36 anos, a paulista é CEO da AfroBusiness Brasil, co-fundadora e CCO da ContaBlack, líder de diversidade da Associação Brasileira de Fintechs e conselheira administrativa no Instituto C&A. O que ela tem feito? Nas suas palavras, hackeado sistemas, conectado pessoas e empreendido com impacto para fortalecer o processo de inclusão socioeconômica da população negra. O caminho é longo, mas satisfatório, e é a própria Fernanda quem conta à Uma Revista, compartilhando sua visão e indicando os três pilares de uma vida financeira saudável.

Clara Jardim: A Conta Black nasceu da percepção de que o sistema financeiro brasileiro mantém pessoas pretas endividadas. Hoje, a empresa é uma hub de serviços financeiros conectados a uma conta digital. Como foi o processo e os maiores desafios de construir a fintech ao longo dos últimos seis anos?

Fernanda Ribeiro: Acredito que os desafios que passamos são muito semelhantes aos da maioria dos empreendedores negros. Não podemos negar que o racismo estrutural perpassa a nossa vida, e não seria diferente no nosso processo de empreender. Iniciamos a Conta Black com o objetivo de atender uma demanda de mercado, sobretudo para trazer novos olhares e customizações para produtos e serviços financeiros. Somos um negócio social, logo, para além do lucro, nossa empresa tem compromissos sociais, e levamos isso para a nossa estratégia. Jamais desenvolveremos algo que coloque o nosso membro em processo de endividamento. Nosso papel é subverter essa lógica, aliada à sustentabilidade financeira. Tem sido uma jornada longa e satisfatória.

Clara Jardim: Seu time é 90% feminino na Afrobusiness e 95% negro na Conta Black. Por quê?

Fernanda Ribeiro: Sabemos que a diversidade de pensamentos é importante para a lucratividade, mas ter predominância das chamadas minorias para o desenvolvimento de negócios de nicho é um fator relevante para a tomada de decisão e o desenvolvimento de produtos.

Clara Jardim: Recentemente, você esteve no palco do Women on Top, onde Ana Paula Padrão reuniu as mulheres mais poderosas do país. Poderia contar como foi essa experiência?

Fernanda Ribeiro: Foi importante compartilhar com mulheres já líderes e que estão galgando esse lugar a minha visão e percepção sobre o topo. Sobretudo, que ele precisa vir de uma perspectiva muito individual. Um exemplo claro disso é que, se considerarmos os dados versus a nossa realidade, é muito importante celebrar cada pequena conquista. Participar do evento foi importante para fazer essa mensagem ecoar.

Clara Jardim: O objetivo da AfroBusiness Brasil é criar mecanismos que promovam a integração entre empreendedores, intraempreendedores e profissionais liberais, fortalecendo o processo de inclusão social e econômica da população negra. Como CEO da empresa, como é o seu trabalho na prática do dia a dia?

Fernanda Ribeiro: Nosso trabalho tem como princípio gerar sustentabilidade financeira para empreendedores negros. Trabalhamos com o processo de inserção deles dentro da cadeia de valor de grandes empresas, como fornecedores. Esse é um trabalho que gera resultados relevantes, pois o faturamento deles cresce até cinco vezes mais após essas conexões.

Clara Jardim: Como tem sido a sua experiência como conselheira administrativa do Instituto C&A?

Fernanda Ribeiro: Eu acredito que ter pessoas pretas nesses espaços faz as discussões terem pontos de vista diferentes, aliados às vivências individuais. Essas trocas são ricas e geram aprendizado para os dois lados.

Clara Jardim: Na sua visão, quais são os pilares da educação financeira que devemos observar desde cedo?

Fernanda Ribeiro: Primeiro, separar consumo de emoção. Segundo, aprender a observar o seu dinheiro, controlar as suas finanças. Em terceiro, desenvolver um pensamento financeiro de longo prazo. Poupe o que é possível dentro da sua realidade, mas não deixe de poupar.